Amadurecer parece algo bastante complexo quando
paramos pra pensar sobre isso. Penso que amadurecer é um processo natural. Mais
fácil para alguns, demorado para outros. E todos conhecemos pelo menos uma
pessoa que parece que nunca amadureceu. Mas o fato é que ninguém dorme e puff!,
acorda maduro. Penso que cada pessoa tem o seu tempo. Às vezes, algumas
situações aceleram o processo.
Neste post, vou falar de como cresci fazendo
intercâmbio, ou de como fazer intercâmbio me fez crescer.
Eu estava no terceiro
ano de Letras quando uma sugestão da minha irmã veio de encontro a um sonho que
eu tinha: porque você não faz um intercâmbio pra melhorar o Inglês? Topei. Mas
parecia que o dia nunca iria chegar, tinha de passar pelo processo da agência
que escolhi, parecia meio distante. Mas fui, passo a passo as etapas foram se
fechado, e deu tudo certo. Finalmente chegou o dia de deixar o BR. Eu, sempre
vaidosa, estava levando apenas uma bolsa e uma mala. Todos os anos de trabalho e foi isso que
levei. Todo o resto foi distribuído entre as mulheres da família e em doações.
Morar fora parece uma idéia muito interessante, pois
normalmente pensamos somente na parte divertida disso. A liberdade, as viagens,
novas culturas, novas pessoas, compras, produtos de beleza a preço de banana. Ter
a oportunidade de se reinventar, de ir pra um lugar onde ninguém te conhece e
você não conhece ninguém. Deixar pra trás os mesmos problemas que já te tiraram
o sono por tantas vezes! Tentador, não? Quem nunca pensou, “Ah, se eu pudesse
fugir pra um lugar novo onde ninguém sabe quem eu sou, eu faria tudo
diferente!” Ou mesmo, quem nunca teve vontade de embarcar num ônibus e ir sem
rumo por vários dias?
Más notícias: quanto ao ônibus, você terá que descer dele em algum momento. E os problemas? Eles
são como as suas malas extraviadas pela companhia aérea: em algum momento elas
batem à porta da sua casa. Alguns, assim como algumas malas, dão um jeito de
chegar bem rapidinho.
Mas então, qual é a parte boa de morar fora por
algum tempo, além das viagens e de aprender um novo idioma? Crescimento é a
resposta. Ok, first things first: Como disse anteriormente, isso acontece de
forma e intensidade diferentes para cada indivíduo. No meu caso, posso dizer
que cresci mais em 2 anos e 4 meses do que fiz em 25. Uhum, bem isso!
Me mudei
para Hanover, New Hampshire, USA, em 2012. Uma cidade pequena, pouco conhecida,
que sempre tinha de explicar que ficava perto de Boston, ou a três horas de Montreal,
para que os outros tivessem um ponto de referência. Mesmo pequitita, lá tudo
funcionava e muito bem.
A intenção era ficar por lá um ano, talvez dois.
Porém, se você for pra NH na metade de novembro, quando o vento do outono já
pelou as árvores e a neve ainda não as cobriu, você começa a pensar que se
conseguir ficar por um mês já será lucro. Agora, some isso ao fato de não
conhecer ninguém lá além da sua host family, e o seu inglês ser nível
iniciante. Não nos esqueçamos de adicionar mais alguns ingredientes à sopa:
comida diferente, cultura extremamente diferente, leis diferentes, trabalho
diferente, pessoas diferentes. Pronto? Sim, então agora, senta e chora.
E
depois de chorar todas as noites por vários dias, surge a idéia brilhante da semana: voltar
pra casa dos pais! Sim, isso mesmo! Vou dizer pra minha host family que não dá
mais pra mim, que não agüento nem mais um minuto, que estou morrendo aos poucos
e que por isso preciso voltar pra
casa. Eles vão entender! Até porque, não tenho vínculo com eles, mal os conheço
e nunca mais os verei na minha vida. As crianças são muito fofas e lindas, mas
eu prefiro os adultos e os gatos. Então é isso, tchau, nice to meet you all!
Nessa hora, em que olhei para a única mala que havia levado e ainda não havia
desfeito completamente, o primeiro pensamento foi tipo: Vou embora! Mas como?
Pois é, isso
é o que eu queria saber também. No meu caso, eu havia investido nisso todas as
economias e tomado emprestado algum.
E agora?
Então, agora, não é que o
primeiro dentinho da maturidade estava começando a crescer? Sem saída, você
pensa: sinto muito, gata, mas você não tem opção. Terá de ficar até recuperar
essa grana.
Hum, pensa que foi fácil ouvir um ‘não’ da maturidade? Mais umas
duas semanas chorando todas as noites até aceitar a idéia de que estava pobre e
tinha que ficar na sofrência até juntar dólares pra tão sonhada carta de alforria e
voltar correndo pra terra das palmeiras onde cantam os sabiás.
Mas aí, percebi
como é impressionante a capacidade de amadurecer rapidamente quando a
necessidade nos obriga. Depois de 3 ou 4 semanas já me sentia bem melhor. Senti
que era melhor ficar. Que eu não teria uma outra chance dessas por um bom
tempo.
As minhas responsabilidades aumentaram muito depressa pra acompanhar a
minha liberdade. Penso que quanto maior for a liberdade maior é a
responsabilidade. Acredito que a maturidade anda lado a lado com a necessidade.
A necessidade de tomar decisões. Desde ter que decidir entre comprar uma roupa
linda ou abastecer o carro pra uma short trip até de estender ou não o
intercambio por mais um ano. A necessidade de ter que chorar sozinha no quarto
morrendo de cólica. De dormir sozinha numa casa no meio do nada quando a
host family viaja e justo naquele final de semana que dá um tornado e a luz
cai. Acordar de manhã cedinho e ver que o urso tentou comer a abóbora de
Halloween que estava na porta da casa. Opa, e se ele está ao redor de casa,
certamente anda pelas trilhas em que você costuma correr livre e solta no final
da tarde. A necessidade de ter que arrancar o carro do meio da neve e dirigi-lo
por ruas muito escorregadias. Respeitar as leis onde não se pode dar “o jeitinho
brasileiro”. Ver o quanto os seus pais podem envelhecer em pouco mais de dois
anos, e o medo de acontecer alguma coisa quando você está longe. Ver que a vida
passa e que para acompanhá-la precisamos deixar para trás muitas coisas. Mas
essa maturidade que cresceu em você nesse tempo em que ficou fora te dá
sabedoria para largar pelo caminho aquelas pessoas tóxicas que sugaram a tua
energia por toda uma vida e você nunca se deu conta. Junto com elas, largar
também bagagens desnecessárias que muitas das vezes nem eram suas, mas que por
algum motivo você carregava. Ver que, na maioria esmagadora das vezes, o melhor
é acumular experiências e não tralhas.
Com todos os altos e baixos, digo que foi uma
experiência enriquecedora! Eu dirigi por vários estados dos EUA, pelas rodovias
mais lindas! Escolhi uma árvore, que fica vermelha no outono, pra ser minha.
Nos próximos posts vou contar tudo de lindo que vi por lá, dos programas de
final de semana em uma cidade pacata, e de como os brasileiros se unem quando
estão longe de casa. Vou contar sobre como as pessoas não precisam ser
barulhentas e encostar em você o tempo todo para mostrar que te admiram e que
tem carinho por você.
Linda história de coragem, amadurecimento e descobertas. Realmente quem esta pensando que tem glamour morar fora por um tempo, é bom pensar melhor antes de ir. É muito bom, mas tem que matar um leão e um urso por dia.
ResponderExcluirVou aguardo ansiosamente pelos seus próximos posts. Bjs😘